Lima Barreto: a propósito do seu centenário

Autores

  • Gilberto Freyre

Resumo

RESUMO Os tempos sociais, tanto quanto os espaços sociais, atuam fortemente sobre a maior ou menor força de preconceitos: Inclusive sobre o preconceito de raça ou de cor, tanto quanto sobre o preconceito de sexo. Lima Barreto surgiu como escritor, na República da 1889, com seu muito apregoado igualitarismo. O seu maior desgosto e humilhação era o fato de ter nas¬cido mulato e ser rejeitado por isso. Foi um homem mais de paixão literária do que de ambição política. A sua tremenda sensibilidade completada por uma incomum informação lite¬rária, advertiu-o de sua condição de homem de cor sem encantos ou atrativos, não só de personalidade como por sua situação financeira, o que concorreu para sua inferiorização social no Brasil de seu tempo. Assinalava, no seu diário íntimo, sentir-se "condenado a ser sempre tomado por contínuo” e não por intelectual, letrado, jornalista. Mas o que lhe desprestigiava a aparência pessoal pode-se sugerir ter sido o seu desmazelo de boêmio por vezes bêbado e com trajes sujos, chegando às vezes ao extremo da dipsomania. No grande romancista não deixava de haver no íntimo, um aristocrata intelectual consciente de sua superioridade de inteligência. Parece ter se tornado convicto do poder de superar a inferioridade como autor da obra literária capaz de alcançar consagração européia. Daí, ter como que se refugiado na sua obra de ficção como num reduto: sua defesa contra sua condição inferiorizante de mestiço doente. A sua obra Triste fim de Policarpo Quaresma, surgida logo após a segunda guerra com um major “Quaresma” a desejar a transformação social – e não apenas política do Brasil – critica as elites brasileiras de então. Obra revolucionária, nova linguagem e nova for¬ma literária e de crítica social. Pioneiro de um tipo social de escritor literário, com um romance social em torno de assuntos os mais brasileiros. Foi à sua maneira, vivente e convi¬vente, autobiográfico, empático. ABSTACT Lima Barreto, in relation to his Centennial. v. 9, n. 1, p. 5-19, jan./jun. 1981. Social times as much as social spaces, they actuate strongly over the strength of prejudices: including over the prejudice of race and colour, as much as over the prejudice of sex. Lima Barreto, appeared as a writer, in the Republic of 1889, with his largely proclaimed equalitarianism. His greatest dislike and humiliation was the fact that he had been born mulatto and he was repelled for that. He preferred much more the literature than the politics. His great sensibility which was completed by an uncommum literary information, warned him about his condition of mulatto without charms, not only from his personality but as by his financial situation, fact that contributed to his social inferiorization in Brazil of his time. In his private diary, he pointed out to feel himself condemned to be always considered an office boy and not an intellectual man, a man of letters or a journalist. However what made him have a bad appearance may be suggested by his way of being a bohemian, many times completely drunk, wearing dirty clothes, and arriving many times to the extreme of the alcoholism. In the great Romancist he was, there was in his intimate an intellectual aristocrat who was conscious of his superior intelligence. He seemed to be convinced that he could surpass his inferiority as author of literary work, able to reach his european consacration. Thence the fact that he sheltered himself in his fiction work: his defense against his inferior condition of a sick mulatto. His work Triste fim de Policarpo Quaresma, which appeared soon after the second war, with a major “Quaresma” who desired the social change – and not only the political one, – criticizes the Brazilian elite of those times. A revolutionary work, a new language and a new literary shape of social criticism. He was a pioneer of a social type of literary writer, with a social romance around Brazilian subjects. He was on his way of being, a living person and a sociable one autobiographic and empathic one. RÉSUMÉ Lima Barreto, à propos de son centenaire. v. 9, n. 1, p. 5-19, jan./jun. 1981. Les temps sociaux ainsi que les espaces sociaux, influent fortement sur la force des prejugés: y compris le préjugé de race ou de couleur, ainsi que sur le préjugé de sexe. Lima Barreto apparaît comme écrivain dans la République de 1889, avec son égalitarisme trés vanté. Son plus grand dégoût et son humiliation était le fait d’être né mulâtre et être rejeté pour cela. Ce fut un passionné de la littérature plutôt qu’un homme politique. La sensibilité excessive augmenteé par une information littéraire invulgaire lui révéla sa conditon d'homme de couleur sans charmes ou attraits non seulement de personnalité mais aussi de situation financière, ce qui lui donnait un sentiment d’inferiorité sociale dans le Brésil de son temps. Dans ses annotations intimes il signalait qu’il se sentait “condamné” à être consideré toujours comme un “commis” et jamais comme un intellectuel, lettré, journaliste. Mais ce qui dépréciait son aspect personnel, on peut dire que c’était sa négligence de bohème, quelquefois ivre et mal habillé arrivant parfois à la dipsomanie. Chez le grand romancier, dans son intime, il ne cessait pas d’exister l’aristocrate intellectuel, conscient de son intelligence supérieure. ll semblait convaincu de pouvoir dominer son inferiorité; comme auteur d'une oeuvre littéraire capable d’obtenir une consécration en Europe. C’est pour cette raison qu’il s’est refugié dans son oeuvre de fiction comme dans une redoute: sa défense contre sa condition inferiorisante de métis malade. Son oeuvre Triste fim de Policarpo Quaresma apparue – immédiatement après la deuxième guerre avec "Quaresma", désirant la transformation sociale – et non seulemente la transformation politique du Brésil – critique les élites brésiliennes de l’époque. Oeuvre révolutionnaire, langage nouveau et nouvelle forme littéraire et de critique sociale. Pionnier d'un type social d'écrivain littéraire d'un roman social autour des sujets vraiment brésiliens. Il a été à sa manière vivant et sociable, autobiographique et empathic.

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Como Citar

Freyre, G. (2011). Lima Barreto: a propósito do seu centenário. Ciência & Trópico, 9(1). Recuperado de https://fundaj.emnuvens.com.br/CIC/article/view/251

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ARTIGOS